Quando se instaura um inquérito, a base de investigação tem de assentar, irrevogavelmente, na procura de “uma”verdade que se achará ou não.
É a atitude científica, objectiva: essa uma verdade somente se conhecerá se, para o inquérito, se começar e continuar com a mente virgem, liberta de preconceitos.
Partir de uma verdade preconceituadamente congeminada e já adquirida é perverter o debate e a procura da citada uma verdade...Que é que verificamos na Comissão de Inquérito parlamentar? Verificamos o seguinte: todos os partidos da oposição já têm na mão essa uma verdade...; esta já está na posse da oposição que a agarra e segura qual laparão. Não existe uma única pergunta da oposição que não queira ter na resposta a resposta que a oposição, com esparrela, fabricou. Basta ver as múltiplas ocasiões em que o deponente responde dizendo “já dei essa resposta uma 3 ou 4 vezes”. Querem os deputados da oposição capturar na armadilha os convidados? Querem, porque já têm a sua uma verdade: são pagos para fazerem mil e uma vez as mesmas perguntas para as quais, armadilhadamente, intimam a resposta que já fabricaram e para as quais os deponentes não dão a resposta que a oposição exige: decepção! Decepção é o que brilha nos olhos dos deputados da oposição! Apanham bonés!
A História tem as suas lições. Lembram-se? Há poucos anos o Iraque foi invadido por uma guerra assassina, de cujas actuais consequências assassinas os seus aprovadores ainda se vangloriam. Qual o fundamento aduzido para justificar o massacre de inocentes nessa guerra de invasão? Este: a existência de Armas de Destruição de Massas. Os aprovadores dessa invasão assassina afirmaram com unhas e dentes que essas ADM existiam. Um dos chefes de fila dessas afirmações foi Pacheco Pereira. As ADM não existiam. Ele imaginou-as, elas existiram: o “possível” foi transformado em real: ilação ilógica: ilação ilegal: irracional. Todos sabemos que o real é possível, não podemos é afirmar que o possível é real (se o não provarmos). Assim: Ele imaginou as ADM, elas existiram. Na realidade não existiram. Afirmar que existiam reduziu-se à mentira. Não existiam: ele mentiu.
Parece-me que está a acontecer o mesmo no actual inquérito parlamentar TVI/PT: a oposição (não por acaso realmente dominada por Pacheco Pereira) imaginou, o imaginado não existiu.
E aqui – país em crise - andamos nós “governados” por deputados que se contentam com o “disse que disse que disse que dissera”.
Vamos supor que, no meio de tão tempestuosos e contraditórios testemunhos, a oposição chega à “sua” verdade (mísera, pois). Que concluir praticamente? Cai o Governo? Sócrates demite-se? A oposição, ao fim de tanto tempo perdido, apresenta moção de censura? E depois? Quem ganha com esta automobilística chicana? Perdem os Portuguses.
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